terça-feira, 2 de setembro de 2008

Um caso de língua II - porque de língua é mais gostoso

Há pouco tempo atrás escrevi sobre uma peça de teatro que assisti. O nome como já perceberam, está no título do texto. Mas eu falo de novo: Um caso de língua, com Urias Lima atuando e Carmem Peternostro dirigindo. A peça é fantástica e recomendo mais uma vez. Porém não vim aqui só para recomendar.

Tive acesso através de uma amiga a uma parte sublime do texto (a melhor pra mim) da peça. É uma redação feita por uma aluna do curso de Letras da Universidade Federal de Pernambuco, vencedora de um concurso interno. Vou compartilhar com vocês aqui pra sentirem mais ou menos como é que a coisa funciona lá no palco. Um pouco extenso, mas vale muito a pena!

“Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Poxa Gú, que legal! Não imaginei que fosse gostar tanto desse email que te enviei rsrsrs, gostei das suas consideracões, ficaram muito legais.
Realmente essa aluna está de parabéns na criatividade.

Beijão.

Camilinha disse...

Genial!