terça-feira, 15 de julho de 2008

Com a palavra a palavra

Hoje sentei em frente ao computador e me fugiram as palavras. Pela primeira vez em minha vida fiquei sem minhas amigas de sempre. Logo hoje que eu falaria justamente delas, das palavras. Palavras que formam o nosso vocabulário, o nosso coloquialismo único, a nossa Língua Portuguesa, ou seria Língua Brasileira?


Nesse fim de semana assisti a um espetáculo no Teatro XVIII (XVIII-TÃO para os íntimos). A peça se chama Um Caso de Língua com o ator Urias Lima e dirigido por Carmem Peternosto. “... o espetáculo fala do português brasileiro, ou brasileiro ex-português...” apresenta o guia dos espetáculos, num folder distribuído na bilheteria. Pois bem, fui tão despretensiosamente que minha surpresa foi mais que agradável. De um texto leve, inteligível a todos os públicos (julgo), dinâmico e muito divertido, a peça traz a nós baianos um reencontro com a nossa linguagem dentro da língua, a língua falada, a normativa, faz um questionamento sobre o que é melhor para a nossa língua brasileira – engordar com os neologismos nascidos no “gueto” e estrangeirismos usados ao extremo ou controlá-los de forma racional.


A atuação de Urias é instigante. Une-se tão integralmente à idéia do espetáculo que não há como negar (e nem tem como, é dele mesmo) que o texto foi escrito de seu próprio punho. Começa com uma viagem à invasão ao território tupiniquim da esquadra de Cabral, chamada pelos portugas de descobrimento. Daí bebe da fonte primaz de nosso idioma, a flor do Lácio, e assume a mistura das duas correntes étnicas que ajudaram a formar o que falamos e escrevemos hoje, a negra e a indígena. Diz coisas da Angola, em Yorubá, fala do tupi (uma das partes mais emocionantes, quando o ator incorpora um caboclo que reclama a Língua como sendo sua), de Portugal, de nós, do que nos define como povo, nossa identidade cultural.


Além disso, somam-se aspectos do nosso cotidiano, coisas comuns a todo baiano que se preze, muita música (boa), sarcasmo e ironia que não soam pedantes, discussões interessantes sobre o tema, tudo apresentado com uma simplicidade que parece treinada. Numa cena impagável, descreve a sexualidade através da sintaxe da Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Um encontro entre um sujeito e um artigo feminino contado com tanta hilaridade que só vendo pra saber.


E é incrível, mas no XVIII-TÃO (e no Vila Velha, no SESC/SENAC, no Gamboa, no Xisto Bahia...) se oferece entretenimento de qualidade por apenas quatro reais. E ao final do espetáculo os aplausos de pé com gritos de “maravilhoso” como acompanhamento confirmam essa qualidade. Hoje as palavras me fugiram, mas as alcancei a tempo de escrever pra vocês e recomendar esta peça que fica em cartaz às sextas, sábados e domingos de Julho, às 20h. Agora só as deixo um pouquinho pra compartilhá-las aqui no blog, e se quiserem ver a peça também tá valendo (palavra por palavra).