quarta-feira, 25 de junho de 2008

Nada de mais

Dia desses, folheando uma revista em meu trabalho encontrei uma matéria que me chamou a atenção. O que é engraçado, pois confesso que geralmente não leio uma matéria até o final. Sim, eu sei. Me envergonho de dizer isso, mas não sei se é preguiça ou hábito de leitura de internet, só sei que não consigo e pronto. Entretanto, essa matéria em especial conseguiu me instigar, me fazer ler até a última linha.

Enfim, quem já ouviu falar em Nadismo? Isso mesmo, deriva do pronome indefinido nada, que significa coisa alguma, ausência de conteúdo. E ainda mais, quem já leu a respeito do Clube de Nadismo? Nesse momento creio que a idéia já se elaborou em sua mente. Pois então esqueça, nem se quer pense nela ou em qualquer outra coisa por 45 minutos. É assim que funciona o clube. Você escolhe alguns minutos do seu dia pra fazer, digamos, nada. Adorei essa idéia (por que eu não pensei nisso antes?). O autor desta magnífica obra da preguiça acumulada se chama Marboh e, veja só, é gaúcho (e não baiano, como os preconceituosos devem ter julgado)!

Uma vez por mês os integrantes do clube se reúnem em um local público junto a uma estrutura cúbica de cor branca que, segundo o idealizador disso tudo, representa o vazio ou esvaziamento de nosso interior. O objetivo é aliviar as tensões do dia estressado das grandes metrópoles, da vida agitada e da insatisfação voraz do ser humano moderno diante das pressões do seu habitat, a selva de pedra. Isso remete a uma outra famosa filosofia de vida inventada no Japão, o Slow Life, baseado noutro movimento nascido na Itália, o Slow Food. Na tradução literal significa vida vagarosa, lenta. Consiste na valorização do tempo, na aversão ao estilo de vida do homem moderno, na relevância conferida a fazer uma refeição demorada, por exemplo. Apesar dessa base, o Nadismo viria como algo novo. Seria um choque total contra a correria, o estresse, a competição, o enfarte, os cabelos brancos ou a ausência deles. Seria mesmo?

Bem, como eu, você agora deve estar pensando: mas espera aí, isso já existe... E não é de hoje! Claro. A palavra certa é meditação. O ato de não pensar em nada, de esvaziar a mente para alcançar um auto-conhecimento, a elevação ao nirvana, num estado de consciência maior. Os indianos, os chineses, tibetanos, os budistas, praticantes de Ioga, entre tantas outras figuras desse mundo já fazem o que nosso amigo sabiamente registrou patente, e há milênios. Eu mesmo confesso que tenho um talento especial para a coisa. Fazer nada é (quando não escrevo) meu hobbie preferido. Creio que seja até um talento meu, porém com muito menos glamour. E tem outra, se é realmente pecado a preguicinha nossa de cada dia, acho que sou o maior dos pecadores. Pecado mesmo é fazer da vida um grid de largada a cada 5 minutos, sem realmente saber se ganhará o Grande Prêmio, cujo objetivo é correr atrás quase sempre do nosso velho amigo capital, olha só. Não é justo.

Portanto apóio, endosso e adiro à filosofia do grande mestre Marboh (se é que essa filosofia é dele mesmo). Acho que no fundo todo mundo tem vocação para ser um “nadista”. Por isso não pense duas vezes, ou melhor, nem uma vez se quer. Experimente você também, caro leitor. Só não vou tentar te convencer agora porque tenho um compromisso importantíssimo e inadiável. Nada, não.